Quizás, quizás, quizás

Débora Menezes
2 min readNov 9, 2022

Quizás eres tú
todo un poema
con cuatro frases
y un seco final
disfrazado de punto y coma

Subiendo la calle
Respirando el calor de la noche
Donde strellas ocultanse
En la luz roja de las casas

Quizás fue el delirio
Si no una terca verdad
Una película hecha en la selva
De una ciudad
Que no puede tragarse el río.

Talvez seja você
Todo um poema

Com quatro frases
E um final seco
Disfarçado de ponto e vírgula

Subindo a rua
Respirando no calor da noite
Onde as estrelas Se escondem
Sob a luz vermelha das casas.

Talvez fosse delírio
Se não, uma verdade teimosa
Um filme feito na selva
De uma cidade
Que o rio não pode engolir.

Às vezes, muitas das vezes, um poema aparece como uma música cantarolando dentro da minha cabeça. Surge quando estou caminhando, olhando o mar, andando de bicicleta. Ou seja, me pega distraída. Vou tentando cantar os versos, como se fosse mesmo uma canção, com medo de esquecer até achar papel e caneta. Às vezes páro para anotar no celular. Às vezes vou musicando, até sentir que está no tom certo.

Às vezes, muitas das vezes, poemas surgem em espanhol dentro da minha boca. Aprendi um pouco dessa língua há 15 anos. Acordei pra ela convivendo com venezuelanos em Manaus e em Roraima. Ou recordei, porque tenho certeza que já fui fluente nessa língua em uma ou duas vidas anteriores.

Acaba que é um exercício para estudar palavras, ouvir o que elas falam. Talvez não escreva cem por cento perfeitamente em espanhol, cujo sentido parece muito mais formal que o português. Parece mesmo que o português foi feito pra escrever poesia. Mas a sonoridade do espanhol, como eu disse, remete a outras vidas e outros delírios, e me divirto e me distraio da parte racional que me cansa, me deixa ansiosa.

Talvez não me distraia, talvez o cérebro peça esse treino. Pede pra não esquecer o que aprendi. Pedi pra conversar em espanhol, ainda que comigo mesma. Repito, não sou fluente, mas cheguei no ponto de ouvir e assistir séries com legenda em espanhol, achando que está em português.

Se tiver algum venezuelano por aí e quiser contar pra mim como soa este poema, me conte. Não é pra ter lógica, mas pode fazer sentido.

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Débora Menezes
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Comunicadora, escritora e taróloga. Escrevi o livro de poemas Amor Roxo por Manaus e Outras Histórias (2018) e lancei o Eu Sou Mais 40 Tarot e Oráculo (2022).